- III-) O Valor e a Moeda
Na época em que
os homens viviam em comunidades restritas, tirando da natureza todos os
produtos de que tinham necessidade, sem dúvida devia existir muito pouca
comunicação entre as diversas sociedades. Mas com o desenvolvimento do
artesanato e da cultura e em razão da desigual repartição dos diversos
produtos naturais, a troca comercial mostrou-se pouco a pouco
necessária.
O primeiro tipo
de troca comercial foi o escambo, fórmula segundo a qual se trocam
diretamente (e, portanto sem a intervenção de uma "moeda" no sentido
moderno da palavra) gêneros e mercadorias correspondentes a matérias
primas ou a objetos de grande necessidade.
Por vezes, quando se
tratava de grupos que entretinham relações pouco amistosas, essas
trocas eram feitas sob a forma de um escambo silencioso. Uma das duas
partes depositava, num lugar previamente estabelecido, as diversas
mercadorias com as quais desejava fazer a troca e, no dia seguinte,
encontrava em seu lugar (ou ao lado delas) os produtos propostos pelo
outro parceiro. Se a troca fosse considerada conveniente levavam-se os
produtos, senão retornava-se no dia seguinte para encontrar uma
quantidade maior. O mercado podia então durar vários dias ou mesmo
terminar sem troca quando as duas partes não podiam encontrar terreno
para entendimento.
Cenas como tais
puderam ser observadas por exemplo entre os aranda da Austrália, os
vedda do Ceilão, os bosquímanos e os pigmeus da África, os botocudos do
Brasil, bem como na Sibéria e na Polinésia.
Com a intensificação das comunicações entre os diversos grupos e a importância cada vez maior das transações, a prática do escambo direto tornou-se bem rapidamente um estorvo. Não se podiam mais trocar mercadorias segundo o capricho de tal ou qual indivíduo ou em virtude de um uso consagrado ao preço de intermináveis discussões.
Com a intensificação das comunicações entre os diversos grupos e a importância cada vez maior das transações, a prática do escambo direto tornou-se bem rapidamente um estorvo. Não se podiam mais trocar mercadorias segundo o capricho de tal ou qual indivíduo ou em virtude de um uso consagrado ao preço de intermináveis discussões.
Houve portanto a
necessidade de um sistema relativamente estável de avaliações e de
equivalências, fundado num princípio (vizinho daquele da base de um
sistema de numeração) dando a definição de algumas unidades ou padrões
fixos. Nesse sistema é sempre possível estimar tal ou qual valor, não
somente para as operações de caráter econômico mas também (e talvez
sobretudo) para a regulamentação de problemas jurídicos importantes e,
todas as espécies de produtos, matérias ou objetos utilitários serviram
nessa ocasião.
A primeira
unidade de escambo admitida na Grécia pré-helênica foi o boi. Não é por
acaso que a palavra latina pecúnia quer dizer "fortuna, moeda,
dinheiro": provém, com efeito, de pecus, que significa "gado, rebanho";
além disso, o sentido próprio da palavra pecunia corresponde ao "ter em
bois".
Mas nos tempos antigos a operação de escambo, longe de ser um ato simples, devia ser, ao contrário, envolta de formalidades complexas, muito provavelmente ligadas à mística e às práticas mágicas. É em todo caso o que revela a análise etnológica feita nas sociedades "primitivas" contemporâneas, que se viu confirmar por um certo número de descobertas arqueológicas. Pode-se, portanto, supor que nas culturas pastorais a idéia de boi-padrão (moeda de sangue) sucedeu à idéia de "boi de sacrifício", ela mesma ligada ao valor intrínseco estimado do animal.
Mas nos tempos antigos a operação de escambo, longe de ser um ato simples, devia ser, ao contrário, envolta de formalidades complexas, muito provavelmente ligadas à mística e às práticas mágicas. É em todo caso o que revela a análise etnológica feita nas sociedades "primitivas" contemporâneas, que se viu confirmar por um certo número de descobertas arqueológicas. Pode-se, portanto, supor que nas culturas pastorais a idéia de boi-padrão (moeda de sangue) sucedeu à idéia de "boi de sacrifício", ela mesma ligada ao valor intrínseco estimado do animal.
Em
contrapartida, nas ilhas do Pacífico as mercadorias foram estimadas em
colares de pérolas ou de conchas. Após um certo período, começou-se por
trocar faixas de tecido por animais ou objetos. O tecido era a moeda; a
unidade era o palmo da fita de duas vezes oitenta fios de largura.
Tais métodos apresentavam, contudo, sérias dificuldades de aplicação. Assim, à medida que o comércio se desenvolvia, os metais desempenharam um papel cada vez maior nas transações comerciais, vindo a tornar-se no fim das contas a "moeda de troca" preferida dos vendedores e compradores. E as avaliações das diversas mercadorias passaram a ser feitas quantitativamente pelo peso, cada uma delas referindo a uma espécie de peso-padrão relativo a um ou a outro metal.
Tais métodos apresentavam, contudo, sérias dificuldades de aplicação. Assim, à medida que o comércio se desenvolvia, os metais desempenharam um papel cada vez maior nas transações comerciais, vindo a tornar-se no fim das contas a "moeda de troca" preferida dos vendedores e compradores. E as avaliações das diversas mercadorias passaram a ser feitas quantitativamente pelo peso, cada uma delas referindo a uma espécie de peso-padrão relativo a um ou a outro metal.
Igualmente no
Egito faraônico, os gêneros e as mercadorias foram freqüentemente
estimados e pagos em metal (cobre, bronze e, por vezes, ouro ou prata),
que se dividia inicialmente em pepitas e palhetas. A avaliação era feita
também sob a forma de lingotes ou de anéis, cujo valor se determinava
em seguida pela pesagem.
Até o momento
não somente tratamos de um simples escambo, mas também um verdadeiro
sistema econômico. A partir de então, graças ao padrão de metal, as
mercadorias passaram a não mais ser trocadas ao simples prazer dos
contratantes ou segundo usos consagrados freqüentemente arbitrários, mas
em função de seu "justo preço".
Até então,
tratava-se somente de introduzir nas transações e nos atos jurídicos uma
espécie de peso-padrão, unidade de valor à qual o preço de cada uma das
mercadorias ou ações consideradas era referido. Partindo desse
princípio, tal metal ou tal outro podia então servir em toda ocasião
como "salário", "multa" ou como "valor de troca", e no caso da "multa",
algum tipo de cálculo de juros primário era utilizado para se obter um
certo valor para a mesma.
Aprendendo a
contar abstratamente e agrupar todas as espécies de elementos seguindo o
princípio da base, o homem aprendeu assim a estimar, avaliar e medir
diversas grandezas (pesos, comprimentos, áreas, volumes, capacidades
etc.). Aprende igualmente a atingir e conceber números cada vez maiores,
antes mesmo de ser capaz de dominar a idéia do infinito.
Pôde elaborar
também várias técnicas operatórias (mentais, concretas e, mais tarde,
escritas) e erguer os primeiros rudimentos de urna aritmética
inicialmente prática, antes de tornar-se abstrata e conduzir à álgebra -
onde hoje temos a Matemática Financeira amplamente desenvolvida.
Foi-lhe também
aberta a via para a elaboração de um calendário e de uma astronomia, bem
como para o desenvolvimento de uma geometria estruturada inicialmente
em medidas de comprimento, áreas e volumes, antes de ser especulativa e
axiomática. Numa palavra, a aquisição desses dados fundamentais permitiu
pouco a pouco à humanidade tentar medir o mundo, compreendê-lo um pouco
melhor, colocar a seu serviço alguns de seus inúmeros segredos e
organizar, para desenvolvê-la, sua economia.
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